REPERTÓRIO

O Grupo


rodando...em doidas espirais...
rodando...em doidas espirais...

A Pesquisa
 Desde 2003, o Grupo Redimunho vem conduzindo uma pesquisa que tem procurado atender às inquietações de seu coletivo, que por sua origem diversa (há artistas de várias regiões do país, de capitais a pequenas cidades do interior) sempre se depararou com questões acerca da vida do homem urbano e do contraponto do cotidiano metropolitano com o modo pacato como se vivia no passado. De maneira que, como conseqüência natural de suas leituras, o grupo desagüou na rotina do homem do campo, na sua simplicidade no trato do dia-dia. Nos estudos, trabalhou-se o resgate da memória e a vivência concreta com as histórias deste homem, olhando-o de perto, visitando-o naquele habitat que tanto interesse despertava em nossos atores. Queríamos experimentar o viver entre os animais, do sertanejo e de sua gente, o que implicava em nos transportar por algum tempo a esta realidade de riqueza tamanha, apreendendo os registros de seus sabores, seus cheiros e sua língua.

No exercício desta investigação, descobriu-se as possibilidades cênicas que uma locação em especial nos oferecia nos passeios entre as ruas de Cordisburgo (cidade que nos recebe desde a producão de “A Casa”) e Morro da Garça: as janelas de suas casas. Era de lá que brotavam as canções que ouvimos, os causos que soubemos, as crônicas daquele sertão que tentávamos desbravar desde nossa partida. Era destas janelas que imperava o rádio de pilha, muitas vezes o único meio de comunicação daquelas famílias as quais a televisão ainda não atingira. Súbito, foi de lá também que nossa dramaturgia começou a surgir, debruçados nas janelas, com um olho voltado às histórias de lá de fora e o outro enfiado nas páginas de Guimarães Rosa, mentor estético do grupo.

Imbuídos deste espírito de curiosidade, refizemos o caminho que o autor de “Sagarana” seguiu numa boiada com uma comissão de vaqueiros, em 1952. Daí emergiu a idéia de também abrirmos uma trilha em nosso espetáculo, uma trilha que beiraria as janelas de um caminho, desenhando quadros como os que víamos ao nos deslocar por aquelas estradas abertas em meio à paisagem do sertão. Reconstruímos esses quadros empiricamente, procurando privilegiar retratos de personagens com os quais convivemos ao longo de nossa viagem.

O Grupo Redimunho
Formado por atores de diferentes escolas (Unicamp, Indac, Macunaíma, Célia Helena e Escola de Artes Dramáticas), o Grupo Redimunho de Investigação Teatral se fundamenta na disciplina da pesquisa e estudo da arte dramática. Nos seus ciclos de leituras, o grupo revisa autores e busca referências novas entre as já incorporadas, como as de Walter Benjamin, Bachelar, Tenesse Willians, Patativa do Assaré, Ariano Suassuna, Gorki, Brecht, Graciliano Ramos e Ibsen. A idéia do grupo, fundado em 2003 pelo seu famoso Núcleo Duro (dos quais fizeram parte os atuais membros Rudifran Pompeu, Izabela Pimentel, e os ex-membros Renata Laurentino e Juliana Fagundes), foi a de buscar novos desafios, sentimento premente em cada um dos atores do grupo.

Com reuniões inicialmente realizadas em salas do Teatro Sérgio Cardoso, travou-se o encontro do elenco com a obra singular de Guimarães Rosa, que passou imediatamaente a atender os anseios artísticos do grupo e a nortear seu trabalho de elaboração de uma dramaturgia. Assim, o Redimunho criou um sistema próprio de ensaio e cronograma de atividades. Primeiramente, intensificou-se o estudo do universo de Guimarães, criando estímulos para o desenvolvimento de cenas. Em seguida, surgiu a dramaturgia daquilo que foi levantado e discutido.

O Redimunho contava então com artistas como Elizeu Paranhos, que desempenhavam a porção mais especifica da preparação do ator, como dramaturgia, voz, corpo e psicologia. Este trabalho hoje é feito por componentes do próprio núcleo dramatúrgico, que se ampliou depois da inclusão de projetos do grupo em programas de financiamento.

Por tratar-se de um grupo que não tem o perfil de satisfazer o tradicional mercado teatral (aquele que acredita num teatro somente como opção de entretenimento), o Redimunho precisou pleitear um espaço dentro daquilo que se pode chamar de política pública de cultura. Na ciência de que suas pesquisas podem contribuir para o crescimento do mapa teatral do estado, o grupo segue lutando todos os dias para que se conheça o seu trabalho, formado por atores que vêm de várias vertentes do teatro paulista e que resolveram criar seu próprio grupo, com a visceral força de um redemoinho.

O Casarão­­­­­­­­­­­
Localizado à altura do número 91 da Rua Major Diogo, antiga Antonio Prado, o Casarão de arquitetura italiana que abriga a Escola Paulista de Restauro data do início do século passado e foi morada da tradicional família de advogados Almeida Nogueira. Suas dependências foram cedidas pelos proprietários em 2005 ao Museu a Céu Aberto e à Companhia de Restauro, empresa especializada na restauração de patrimônio histórico que iniciou as atividades de recuperação da casa e fundou a Escola Paulista de Restauro. Criada com o intuito de formar eletricistas, marceneiros, encanadores e todo tipo de mão-de-obra especializada em restauro, a Escola foi a primeira na cidade a abastecer o mercado com profissionais para trabalhar na revitalização de monumentos, museus e fachadas históricas.

            No decorrer dos anos em que o casarão se manteve erguido, resistindo bravamente à ação do tempo, incólume à especulação imobiliária e à demolição de um quarteirão inteiro de imóveis para modernização da rua, muitas lendas foram criadas a seu respeito. A mais curiosa delas é a de que fantasmas dos falecidos moradores habitavam seu interior, que possui uma masmorra instalada no porão do prédio de 700 metros quadrados. Tataraneto dos patriarcas que desde 1911 foram responsáveis por esta imponente construção, Luiz Carlos Sanson, 46, mantém vivo na memória o assombro que aquele quarto escuro, repleto de pilares e portinholas e que ninguém nunca soube precisamente para que era utilizado, lhe provocava no período em que ali morou, entre os anos de 1980 e 1991. Sanson foi o penúltimo membro da família a deixar a casa, que esteve vazia até a ocupação por parte dos restauradores.

            Cultos e religiosos, os Almeida Nogueira mantinham em sua residência uma biblioteca com alguns livros escritos pelos próprios antepassados e objetos de raro valor histórico. Alguns até bem pouco tempo permaneciam no local, como lavabos e um sistema de campanhias precursor do interfone, com “ramais” em todos os quartos e uma “central” na cozinha, para o chamado dos empregados. Destacam-se ainda como grandes testemunhos memoriais os papéis de parede que cobrem os cômodos da casa e o quintal repleto de uvaias e ameixeiras (em cujo solo suspeita-se estarem soterrados objetos domésticos que podem revelar detalhes sobre o cotidiano das gerações que por ali passaram).

            O famoso Casarão da Bela Vista, situado próximo a importantes edificações como o Teatro Brasileiro de Comédia, foi tombado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico por representar a forte presença da colônia italiana no bairro, refletindo em sua aparência a influência dos imigrantes no gosto e na estética arquitetônica da cidade. Ainda hoje, sua imponência e sua forte imagem dentre os moradores, destacam-no como um dos elementos mais relevantes da paisagem urbana da região central da nossa cidade.

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